O Patinho Feio

26/07/2013 13:40

Estava um dia muito agradável no campo. O ar rescendia a verão; o milho estava amarelo, a aveia estava pronta paraa ser ceifada e os fardos de feno nos campos pareciam pequenas colinas de erva e a cegonha passeava por cima delas com as suas longas pernas vermelhas. A toda a volta dos campos havia bosques e florestas com fundos lagos de água fresca. Sim, estava mesmo muito agradável no campo. E, brilhando ao sol, podia ver-se uma velha mansão rodeada por uma lagoa. Grandes folhas de azedinhas cresciam nas paredes até à água; algumas eram tão grandes que uma criança podia ficar de pé debaixo delas. À sombra podia-se até pensar que se estava numa florestazinha secreta e primitiva.

Era aí que uma pata chocava os seus ovos no ninho. Porém, já estava ficando bastante irritada porque os ovos com os patinhos demoravam a eclodir; quanto às visitas de outras patas, quase não as tinha; os outras patas preferiam nadar no lago a ir ter com ela debaixo das grandes folhas para conversar.

Por fim, os ovos começaram a eclodir, um após outro.

— Pip, pip!

O ninho ficou cheio de patinhos que colocavam as cabeças fora das cascas.

— Quac, quac! — disse a mãe. — Depressa, depressa! E as criaturinhas saíram o mais depressa que puderam e olharam à sua volta, no abrigo de folhas verdes; e a mãe deixou-as olhar à vontade, porque o verde faz bem aos olhos.

— Como o mundo é grande! — disseram os pequenos.

É claro que agora tinham muito mais espaço do que dentro dos ovos.

— Pensam que o mundo é só isto, seus patetas? — perguntou a mãe. — Ora! O mundo estende-se muito para além do outro lado do jardim, mesmo até a fazenda do vigário. Embora, verdade seja dita, eu nunca tenha estado lá. Já estão todos aqui, não estão? — Levantou-se do ninho. — Não, tu ainda não. Ainda falta o ovo maior. Quanto tempo demorará ainda? Estou mesmo farta disto, se querem saber.

E tornou a deitar-se.

— Bem, que tal vão as coisas? — perguntou uma velha pata que veio visitá-la.

— Este ovo está demorando..  um tempo horrível — disse a mãe pata. — Não há meio de eclodir! Mas olhe para os outros! São os patinhos mais bonitos que já vi, tal e qual o pai, aquele boboca que nunca vem visitar-me!

— Deixe-me ver o ovo — disse a velha pata. — Ah! Acredite no que lhe digo, isso é parece um ovo de peru. Uma vez aconteceu-me a mesma coisa e nem calcula o trabalho que tive com os peruzinhos! Como eram perus, tinham medo da água, e não consegui metê-los lá na lagoa. Deixe ver. É, é sim... é um ovo de peru. Deixe-o ficar no ninho e vá ensinar os outros a nadar.

— Bem, vou aguentar um pouco mais — respondeu a pata. — Já estou aqui há tanto tempo que não custa esperar um pouco mais.

— Está bem, faça como quiser — respondeu a velha pata, e foi-se embora.

Por fim, o grande ovo eclodiu.

—Pip, pip! — disse o jovem, saindo cá para fora.

Mas que grande e que feio que ele era! A mãe olhou para ele.

— Que grande patinho! — pensou. — Será mesmo um peru? Bem, já vamos ver; tem de ir para a água, nem que eu tenha de  empurrá-lo.

No dia seguinte, o tempo estava lindo, e a mãe pata saiu com todos os patinhos e desceu até o lago, onde mergulhou.

— Quac, quac! — chamou ela.

E, um atrás do outro, os patinhos saltaram para a água. Ficaram com as cabeças debaixo de água, mas vieram logo à tona, e em breve nadavam gostosamente. As suas patinhas mexiam-se naturalmente, e lá estavam todos — até o patinho feio e cinzento nadava com os outros.

— Não, isto não é um peru! — exclamou a mãe. — Ainda bem que ele usa as patas e que nada bem. É meu filho... só pode ser... Isso não há dúvida. Realmente, é bem bonito, se repararmos bem. Quac, quac! Venham comigo, meninos; venham conhecer o mundo e as outras aves da fazenda; mas fiquem perto de mim, para ninguém os pisar. E cuidado com o gato! Esse bichano é fogo !

E lá foram para o pátio da fazenda. Aí havia um barulho horrível e grande agitação, porque duas famílias de patos e gansos discutiam por causa da cabeça de um peixinho — mas afinal quem levou a melhor foi o gato que papou o peixe.

— O mundo é assim — disse a mãe pata.

Ficou com água no bico, de vontade,  porque também ela teria gostado de comer a cabeça do peixe.

— Vá, usem as patinhas; andem e façam uma vênia (cumprimento) à velha vovó pata que está ali! Ela é a pessoa mais importante da fazenda; os antepassados dela vieram da Espanha e, como vêem, tem um pedacinho de pano vermelho atado a uma pata. É nobre.  Isso é uma coisa muito especial: significa que ninguém pode matá-la e que tanto os homens como os animais têm de tratá-la com respeito. Venham! Não metam as patas para dentro! Um patinho bem educado anda com as patas bem afastadas, como o pai e a mãe. Vamos! Façam uma vênia (cumprimento) e digam: «Quac!» (bom dia).

Os patinhos fizeram o que ela lhes disse, mas os outros patos do pátio olharam para eles e disseram em voz alta:

— Lá vamos ter de aturar estes patinhos, como se já não fôssemos bastantes! E, meu Deus!, que patinho tão esquisito aquele! Não o queremos com certeza por aqui.

E um pato voou em direção ao patinho cinzento e deu-lhe uma bicada no pescoço.

— Deixa-o em paz — disse a mãe. — Ele não está incomodando ninguém.

— Pois não, mas é muito grande e tem um jeito esquisito — respondeu o pato que o tinha bicado. —Tem de ser colocado na fila, em ordem.

— Bela família — comentou a velha pata com o paninho vermelho à volta da perna. — Os patinhos são todos bonitos, exceto aquele, não pode ser. Se ao menos a mãe pudesse tornar a fazê-lo!

— Isso é impossível, Vossa Senhoria — disse a mãe pata. — É verdade que não é bonito, mas tem bom aspecto e nada tão bem como os outros. Atrevo-me até a dizer que, quando for maior, é capaz de vir a ser mais bonito e talvez, com o tempo, um pouco mais pequeno. Ficou tempo demais dentro do ovo e foi isso que lhe estragou o aspecto. — Ajeitou-lhe a penugem do pescoço e alisou-lhe uma peninha e outra. — Além disso — acrescentou —, é um pato, por isso não tem muita importância se é bonito ou feio. É saudável, tenho a certeza, e vencerá neste mundo.

— Seja como for, os outros patinhos são encantadores — retorquiu a velha pata. — Bom, estejam à vontade, e se encontrarem uma cabeça de peixe podem me trazê-la.

Isto foi o primeiro dia; depois, a sina do patinho cinzento piorou. Que infeliz se sentia por ser tão feio! Era perseguido por todos. Os patos tentavam dar-lhe bicadas; as galinhas também; e a moça empregada que dava de comer aos animais empurrava-o com o pé. Até os irmãos e as irmãs estavam contra ele e diziam:

— Feio! Seria melhor que o gato te apanhasse!

A mãe também dizia em voz baixa:

— Quem me dera que estivesses longe…

E então ele foi-se embora. Primeiro, voou para cima de um arbusto — e os passarinhos nos arbustos voaram alarmados.

«É por eu ser tão feio», pensou o patinho, fechando os olhos.

Mas continuou o seu caminho. Por fim, chegou aos charcos e juncos onde vivem os patos bravos e ficou lá deitado toda a noite, porque estava muito cansado e triste.

De manhã, os patos bravos apareceram e observaram o seu novo companheiro.

— Que espécie de criatura és tu? — perguntaram.

O patinho virou-se para cada um e cumprimentou-os o mais amavel e educadamente que pôde.

— És mesmo feio, lá isso és! — disse um pato bravo. — Mas isso pouco importa, desde que não cases com nenhuma das nossas filhas.

Pobrezinho do patinho. A ideia de casar nem sequer lhe tinha vindo à cabeça porque ele ainda era uma criança. Tudo o que queria era deitar-se e descansar nos juncos, nadar e beber um pouco da água do lago.

Ali ficou durante dois dias, até que apareceram dois gansos selvagens — dois jovens machos. Também tinham nascido há pouco, mas eram muito vivos e descarados.

— Olá, amigo — disseram. — És tão feio que gostamos de ti. Que tal vires conosco quando voarmos para mais longe? Numa lagoa perto daqui há umas lindas gansas, belas meninas, com um «quac!» (voz) que vale a pena ouvir. Com o teu aspecto esquisito pode ser que tenhas sorte com alguma delas.

Nesse momento ouviu-se «bang!, bang!» (tiros) e ambos os alegres gansos caíram mortos nos juncos. A água ficou vermelha de sangue. Outra vez «bang!, bang!» — e um bando de gansos selvagens levantou voo dos juncos. Era uma grande caçada. Os caçadores estavam a toda a volta do charco; alguns estavam mesmo empoleirados nas árvores. Fumaça azul das espingardas subia como nuvens dentro e fora dos ramos escuros e ficava a pairar sobre a água. Os cães faziam tchac!, tchac!, pela lama, esmagando os juncos. O pobre patinho estava aterrorizado; quando tentava precisamente esconder a cabeça debaixo da asa um cão perdigueiro enorme e assustador parou em frente dele com a língua de fora e os olhos a brilharem de uma maneira horrível. Encostou o focinho ao patinho, cheirou, arreganhou os dentes aguçados e depois — tchac!, foi-se embora sem lhe tocar.

— Oh, graças a Deus! — suspirou o patinho. — Sou tão feio que até o cão pensa duas vezes antes de me morder. E ficou muito quieto enquanto ouvia os tiros, um após outro, guincharem e troarem pelos juncos. O dia já ia acabando quando o barulho parou; mas a pobre criatura nem então se atreveu a mexer-se. Por fim, levantou a cabeça, espreitou cautelosamente em redor e apressou-se a fugir do charco tão depressa quanto pôde. Correu por campos e prados, mas o vento soprava tão forte contra ele que era difícil avançar.

Perto da noite, chegou a um casebre miserável; estava em tal estado que nem sabia para que lado havia de cair, de modo que continuava de pé. O vento soprava com tanta força que o patinho teve de se sentar para não ser levado por ele, mas o vento parecia ficar cada vez mais forte. Então notou que a porta da choupana não tinha uma dobradiça e estava pendurada de tal modo que ele conseguia esgueirar-se lá para dentro, e foi isso mesmo que fez.

Nessa casinha vivia uma velhota com um gato e uma galinha. O gato, a quem ela chamava Filhinho, sabia arquear as costas e fazer ronrom; também fazia faíscas, mas só quando lhe faziam festas ao contrário (cafuné). A galinha tinha umas perninhas curtas e por isso chamava-se Pinta-Pernas-Curtas. Punha muitos ovos, e a velhota gostava dela como se fosse sua filha.

Quando amanheceu, repararam logo no estranho pequeno visitante. O gato começou a fazer ronrom, e a galinha a cacarejar.

— O que é que aconteceu? — perguntou a velhota, olhando à volta.

Mas já não enxergava muito bem, de modo que achava que o pequeno recém-chegado era uma pata adulta.

— Ora isto é que é sorte! — exclamou ela. — Agora vou ter ovos de pata… desde que não seja um pato. Bem, veremos…

E o patinho ficou sendo observado durante três semanas, mas não apareceram ovos.

O gato era o senhor da casa, e a galinha a senhora. Egoístas, passavam a vida a dizer «Nós e o mundo…», porque pensavam que eram metade do mundo e, claro, a metade melhor. O patinho achava que podia haver outras opiniões sobre o assunto, mas a galinha não queria ouvir falar nisso.

— Sabes pôr ovos? — perguntou. — Não? Então, faz o favor de guardar as tuas opiniões para ti próprio!

O gato perguntou:

— Sabes arquear as costas e fazer ronrom ou soltar faíscas? Não? Então o melhor que tens a fazer é ficares calado quando as pessoas sensatas estão falando.

De maneira que o patinho se sentava a um canto e aborrecia-se. Vinham-lhe à ideia pensamentos sobre o ar livre e o sol, e depois uma saudade extraordinária de nadar e flutuar na água. Por fim, não pôde deixar de falar nisso à galinha.

— Que ideia tão disparatada! Nadar ! — exclamou ela. — O teu mal é não teres nada que fazer; por isso é que tens essas fantasias. Põe mais é uns ovos ou tenta fazer ronrom que essas ideias malucas passam.

— Mas é tão delicioso flutuar na água — disse o patinho. — É tão bom baixar a cabeça e mergulhar até o fundo!

— Deve ser ótimo! — disse a galinha sarcasticamente, rindo dele. — Não deves estar bem da cabeça! Pergunta ao gato, que é a pessoa mais inteligente que conheço, se ele gosta de flutuar na água ou de mergulhar até o fundo. Não faças caso da minha opinião; pergunta à nossa dona, a velhota: não há ninguém mais sábio no mundo inteiro. Achas que ela quer flutuar ou meter a cabeça dentro de água? Bobeira.

— Não compreendes… — disse o patinho tristemente.

— Bem, se nós não te compreendemos, ninguém compreenderá. Nunca saberás tanto como o gato ou a velhota, para já não falar de mim. Não tenhas sonhos bobos, seu tampinha, e agradece as coisas boas que te têm acontecido. Não encontraste um quarto quente e companheiros elegantes, com quem podes aprender muito se prestares atenção? Mas tu só dizes besteiras e disparates; nem sequer és uma companhia alegre. Acredita que o que te digo é para teu bem. Vá, faz um esforço e põe uns ovos ou, pelo menos, aprende a fazer ronrom e a deitar faíscas.

— Acho que o melhor é ir por esse mundo afora — respondeu o patinho.

— Então vai, podes ir embora — exclamou a galinha.

E o patinho lá foi. Boiou na água e mergulhou; mas parecia-lhe que os outros patos não faziam caso dele por ele ser feio.

Até que chegou o outono: as folhas do bosque ficaram castanhas e amarelas e caíam; o vento as apanhava e as fazia rodopiar como loucas; até o céu parecia gelado; as nuvens pairavam, pesadas com granizo e neve, e o corvo, empoleirado numa árvore, graznava «crá, crá» por causa do frio. Só de olhar para aquilo o patinho ficava logo tremendo. Foi um tempo difícil também para o patinho.

Uma tarde, com o céu avermelhado pelo pôr do sol, um bando de grandes aves maravilhosas ergueu-se dos juncos. O patinho nunca tinha visto aves tão belas. Eram de um branco brilhante, com longos pescoços graciosos — na verdade, eram cisnes. Emitindo um estranho som, abriram as esplêndidas asas e voaram para longe, para terras mais quentes e lagos que não gelavam. Voaram até bem alto e o patinho feio ficou muito excitado; andava rodando na água, e chamou-os com uma voz tão alta e estranha que até ele próprio se assustou. Oh, nunca esqueceria aquelas aves maravilhosas, aquelas aves felizes! Assim que a última desapareceu, mergulhou mesmo até o fundo e, quando voltou de novo à superfície, estava excitadíssimo. Não sabia como se chamavam as aves; não sabia de onde tinham vindo nem para onde voavam — mas sentia-se mais atraído por elas do que por qualquer outra coisa.

No inverno ficou ainda mais frio. O patinho tinha de nadar às voltas na água para esta não congelar, mas cada noite a parte sem gelo se tornava mais pequena. Depois, tinha de bater com as patinhas a toda a hora, para quebrar a superfície de gelo; por fim, acabou por ficar estafado e cansado. Parou e depressa a água congelou completamente.

De manhã cedo apareceu um camponês. Vendo a avezinha tiritando de frio e com gelo até o pescoço, foi até lá, derreteu o gelo  e levou-a para casa, para a mulher. Pouco tempo depois, o patinho, aquecido, reanimou-se. As crianças queriam brincar com ele, mas ele julgava que queriam fazer-lhe mal e, assustado, voou para dentro da vasilha do leite. O leite salpicou toda a sala; a mulher deu um grito e colocou as mãos à cabeça; depois, o patinho voou para dentro da tigela da manteiga, depois para o barril da farinha, e depois saiu. Meu Deus, que espetáculo! A mulher, ainda aos gritos, atirou-lhe o atiçador da lareira; as crianças, rindo e guinchando, caíam umas por cima das outras, tentando apanhar o patinho. Felizmente, a porta estava aberta; lá foi ele correndo para os arbustos e para a neve recém-caída e aí ficou meio entontecido.

Mas seria demasiado triste contar-lhes todas as dificuldades e infelicidades por que ele teve de passar durante aquele inverno cruel. Um dia, estava tentando aconchegar-se entre os juncos da lagoa quando o sol começou a enviar novamente raios quentes; os passarinhos cantavam; que maravilha! Tinha chegado a primavera. O patinho bateu as asas. Pareciam mais fortes do que antes, e levaram-no velozmente para longe; antes de perceber  que estava voando, aterrissou num lindo jardim cheio de macieiras em flor, com lilases perfumados que pendiam dos seus longos ramos mesmo até um riacho sinuoso. E então, mesmo em frente dele, saindo das sombras das folhas, apareceram três magníficos cisnes brancos, agitando as penas enquanto deslizavam pela água. O patinho reconheceu as maravilhosas aves e sentiu uma estranha tristeza. Sentiu-se atraído por eles.

— Vou voar até àquelas nobres aves, mesmo que me matem à bicadas  me atreverei a aproximar-me, feio como sou. Mas não me importo… é melhor ser morto por umas criaturas tão esplêndidas do que levar bicadas de patos e galinhas e pontapés da moça empregada da fazenda ou ter de aguentar outro inverno como o último.

Voou para a água e nadou em direção aos magníficos cisnes. Estes viram-no e vieram ter com ele a toda  velocidade, agitando a plumagem.

—Vá, matem-me — disse o pobre patinho curvando a cabeça  até a água enquanto esperava pelo fim.

Mas o que é que viu ele refletido embaixo? Observou-se bem — já não era uma desajeitada ave feia e cinzenta. Era igual às orgulhosas aves brancas ali ao pé: era um cisne!

Não interessa nascer num terreiro de patos quando se sai de um ovo de cisne. Se um gato nasce em um forno, esse gato não será pão, não é mesmo ?  É gato mesmo.

Sentiu-se feliz por ter sofrido tantas dificuldades, porque agora dava valor à sua boa sorte e ao lar que finalmente tinha encontrado. Os majestosos cisnes nadaram à sua volta e acariciaram-no com admiração com os bicos.

Umas criancinhas apareceram no jardim e atiraram pão para a água e a mais pequenina gritou alegremente:

— Há mais um cisne!

E as outras disseram, encantadas:

— É verdade, apareceu mais um cisne!

Bateram palmas e dançaram de contentamento; depois foram correndo contar aos pais a novidade. Jogaram mais migalhas de pão e bolo para a água e todos disseram:

— O novo é o mais bonito de todos. Olhem que belo que é, aquele novo!

E os cisnes mais velhos curvaram as cabeças diante dele.

Ele sentia-se muito envergonhado e escondeu a cabeça debaixo de uma asa; não sabia o que fazer. Estava quase feliz demais, porque um bom coração nunca é orgulhoso nem vaidoso. Lembrava-se dos tempos em que tinha sido perseguido e desprezado, e agora ouvia toda a gente dizer que era a mais bela de todas aquelas maravilhosas aves brancas. Os lilases curvaram os ramos até à água para o saudarem; o sol enviou o seu calor amigo, e a jovem ave, com o coração cheio de alegria, agitou as penas, ergueu o pescoço esguio e exclamou:

— Nunca pensei que alguma vez pudesse sentir tamanha felicidade quando era o patinho feio!