O Gato de Botas

26/07/2013 13:41

Era uma vez um moleiro que tinha três filhos.  Um dia, antes de morrer, chamou-os e disse-lhes que irira repartir todos os seus bens. Assim, ao mais velho deu o moinho, ao do meio o burro de carga e ao caçula deixou um gato. O filho mais novo ficou muito triste porque achopui que o pai não tinha sido justo na repartição da herança. quando de súbito ouviu o gato falar:
─ Meu querido dono, compra-me um par de botas e uma mochila e, em breve, te provarei que sou de mais utilidade que um moinho ou um jumento.
         Assim, pois, o rapaz converteu todo o dinheiro que possuía num lindo par de botas e numa mochila para o seu gatinho. Este calçou as botas e, pondo a mochila às costas, encaminhou-se para um  lugar onde havia muitos coelhos. Quando ali chegou, abriu a mochila, colocou dentro dela uma porção de farelo de milho, miúdo, e deitou-se no chão fingindo-se de morto.
     Excitado pelo cheiro do farelo de milho, o coelho saiu de seu esconderijo e dirigiu-se para a mochila. O gato apanhou-a logo e levou-o ao rei, dizendo-lhe:
─ Senhor, o nobre marquês de Carabás mandou que lhe entregasse este coelho. Guisado com cebolinhas será um prato delicioso !
─Coelho?! - exclamou o rei.
─ Que bom! Gosto muito de coelhos, mas o meu cozinheiro não consegue nunca apanhar nenhum. Diga ao teu amo que eu lhe mando os meus mais sinceros agradecimentos.
         No dia seguinte, o gatinho apanhou duas perdizes e levou-as ao rei dizendo que eram presentes do marquês de Carabás.  E assim durante algum tempo o gato continuou a levar ao palácio outros presentes; todos, dizia, eram da parte do Marquês de Carabás.
         Um dia o bichano convidou seu amo para tomar um banho no rio.  Ao chegarem ao local o gato disse ao jovem:
─ De hoje em diante seu nome será Marquês de Carabás. Agora, por favor, tire sua roupa e entre na água.
         O rapaz não estava entendendo nada, mas como confiava no seu mascote atendeu ao seu pedido.
O gato havia levado rapaz no local por onde devia passar a carruagem real.  O esperto gato ao ver a carruagem se aproximando começou a gritar:
─Socorro!!!  Socorro! !!
─ Que aconteceu? - perguntou o rei, descendo da sua carruagem.
─ Os ladrões roubaram a roupa do nobre marquês de Carabás! - disse o gato.
─ Meu amo está dentro da água, ficará resfriado...
          O rei mandou imediatamente uns empregados ao palácio; voltaram daí a pouco com um magnífico vestuário feito para o próprio rei, quando este era jovem.
       O dono do gato vestiu-se e ficou tão bonito que a princesa, assim que o viu, dele se apaixonou. O rei também ficou encantado e murmurou:
─ Eu era exatamente assim, nos meus tempos de moço.
     O rei convidou o suposto marquês para subir em sua carruagem.
─ Será que a vossa majestade nos dá a honra de visitar o palácio do Marquês de Carabás? – perguntou o gato, diante do olhar aflito do rapaz.
    O rei aceitou o convite e o gato saiu correndo na frente, para arrumar uma recepção para o rei e a princesa.  O gato estava radiante com o êxito do seu plano e, correndo à frente da carruagem, chegou a uma fazenda e disse aos  peões e lavradores:
─O rei está chegando; se não lhes disserem que todos estas fazendas e campos pertencem ao marquês de Carabás, o rei mandará cortar-lhes a cabeça.
    De forma que, quando o rei perguntou de quem eram aquelas searas, os lavradores responderam-lhe:
─Do muito nobre marquês de Carabás.
─Que lindas propriedades tu tens !- elogiou o rei ao jovem.
   O moço apenas sorriu perturbado, não disse nada. E o rei murmurou ao ouvido da filha:
─Eu também era assim, nos meus tempos de moço.
   Mais adiante, o gato encontrou uns camponeses ceifando trigo e lhes fez a mesma ameaça:
─Se não disserem que todo este trigo pertence ao marquês de Carabás, faço picadinho de vocês.    Assim, quando chegou a carruagem real e o rei perguntou de quem era todo aquele trigo, responderam:
─Do mui nobre marquês de Carabás.
   O rei ficou muito entusiasmado e disse ao moço:
─ Ó marquês! Tens muitas propriedades!
   O gato continuava a correr à frente da carruagem; atravessando uma espessa floresta, chegou à porta de um magnífico palácio, no qual vivia um ogro (Ogro é uma criatura formidável que come criancinhas. O Schrek é um ogro bom) muito malvado que era o verdadeiro dono dos campos semeados. O gatinho bateu à porta e disse ao ogro que a abriu:
─Meu querido ogro, tenho ouvido por aí umas histórias a teu respeito. Dizei-me lá: é certo que podes transformar-te  no que quiseres?
─ Certíssimo - respondeu o ogro, e transformou-se num leão.
─ Assim não vale - disse o gatinho.  ─- Qualquer um pode inchar e parecer maior do que realmente é. Toda a arte está em tornar-se menor. Poderias, por exemplo, transformar-te em rato?
─ Ah ! Isso é muito fácil- respondeu o ogro, e transformou-se imediatamente num rato.
   O gatinho deitou-lhe logo as unhas, comeu-o e desceu logo a abrir a porta, pois naquele momento chegava a carruagem real. E disse:
─ Bem-vindo seja, senhor, ao palácio do marquês de Carabás.
─ Olá! - disse o rei
─ Que formoso palácio tu tens! Peço-te a fineza de ajudar a princesa a descer da carruagem.
    O rapaz, timidamente, ofereceu o braço à princesa e o rei murmurou-lhe ao ouvido:
─ Eu também era assim tímido, nos meus tempos de moço.
    Entretanto, o gatinho meteu-se na cozinha e mandou preparar um esplêndido almoço, pondo na mesa os melhores vinhos que havia na adega; e quando o rei, a princesa e o amo entraram na sala de jantar e se sentaram à mesa, tudo estava pronto.
    Depois do magnífico almoço, o rei voltou-se para o rapaz e disse-lhe:
─ Jovem, és tão tímido como eu era nos meus tempos de moço. Mas percebo que gostas muito da princesa, assim como ela gosta de ti. Por que não a pedes em casamento?
    Então, o moço pediu a mão da princesa, e o casamento foi celebrado com a maior pompa. O gato assistiu, calçando um novo par de botas com cordões encarnados e bordados a ouro e preciosos diamantes. E daí em diante, passaram a viver muito felizes. E se o gato às vezes ainda se metia a correr atrás dos ratos, era apenas por divertimento,  porque absolutamente não mais precisava de ratos para matar a fome...


Moral:   O dinheiro e a fortuna herdados podem desaparecer, mas a educação e o aprendizado jamais.

             Tenham agudeza no espírito e agilidade nas mãos, / Sejam, em uma palavra, trabalhadores e industriosos e vereis retornar a vós a fortuna / que virará as costas àqueles que a tiveram de nascença / e que não sabendo fazer nada para a conservar quando a tem, saberão muito menos para a conquistar, uma vez perdida.